Um passeio. É assim que
pode ser definido “Colorindo Giocondas”, uma coletânea com contos do grande
nome Valter Cardoso. É possível ver do primeiro ao último conto a pluralidade
de gêneros com os quais o autor se identifica, bem como sua habilidade em
variar no estilo linguístico, nos temas, e nas escolhas narrativas.
Começamos nosso passeio
com o conto que dá título ao livro: sendo instigante e até mesmo confuso nas
primeiras linhas, terminamos desejosos de seguir para o próximo, com a
consciência de que essa será uma sensação bastante recorrente. Vivemos numa era
em que a divulgação literária nas redes se dá principalmente por meio da
repercussão de fragmentos, frases impactantes ou reflexivas; este livro é um
prato cheio para isso. Além do fato de haver diversas frases assim no conteúdo
do livro por si só, antes de cada conto, somos apresentados a epígrafes tão
belas quanto reflexivas, acompanhadas de uma ilustração. Temos algumas dignas
de tatuagem em todo o livro, mas separo aqui um espaço para três citações
escolhidas com imenso amargor de não poder citar todas.
“Poematizar
a linguagem, é desconstruir na grafia, para concertar na melodia” – Cêntimos
que Sentimos.
“O impossível reafirma
sua presença na menção de sua não existência” – A Transformação
“Ao elaborar o plano
perfeito, certifique-se de que ele tenha exatamente duas dimensões” – Sangue é Vida.
Entrando em mais detalhes,
o livro é composto por doze contos que em geral tratam de ficção científica,
embora tenhamos realismo mágico e uma boa dose de risadas aqui e ali. O livro é
com certeza um reflexo da vida e obra do autor, visto que, ao leitor que nunca
teve contato com a fabulosa obra de Valter Cardoso, “Colorindo Giocondas” é um
ótimo panorama inicial para saber o que esperar ao aprofundar-se mais em
conhecê-lo.
Este que é o mais recente
e a sétima publicação do autor traz em si um bom conteúdo sobre sua vida, desde
o prefácio, escrito por Paulo Bini, que introduz a obra dizendo: “Esta joia que
você tem em mãos não é para ser lida. É para ser degustada”. Ao final, embora
haja a vontade de voltar e reler tudo, tendo assim uma ideia inicial bem
formada do que há dentro do baú do tesouro que é este livro, é válida (e
recomendada) a leitura das notas “Sobre o autor”, onde temos um contato mais
intimista com sua vida e seu envolvimento com a literatura, o meio acadêmico, e
sua raiz geek, muito presente.
Sendo breve, “Colorindo
Giocondas” é um deleite, e acima disso: é literatura acessível. Como um leitor
que não tem muito contato com ficção científica, é fácil esquivar-se do tema
por medo da complexidade que possa ser trazida. Mas aqui tratamos de um caso
diferente. É literatura complexa democratizada. Dos assíduos leitores de sci-fi
aos iniciantes nesse mundo, o livro traz consigo uma carga deliciosa de
curiosidade e, quando termina, deixa na boca um gostinho de “quero mais” aliado
à satisfação de tê-lo concluído. A releitura pode mudar sua percepção sobre a
forma como diversas das histórias ali contadas foram estruturadas, pensadas e
escritas. Posso dizer que tive esse como meu livro companheiro, e o reli quatro
vezes por inteiro (salvo momentos em que retornei para um conto ou dois), e em
todas essas releituras, tive a sensação de estar experimentando algo novo entre
aquelas páginas. Foi e deve ser usado como um livro de conforto, mas não se
pode negar o quanto há para ser extraído dali quando se encara a obra como um
livro de estudos. Valter nos ensina como escrever sci-fi e realismo
mágico, sempre com a delicadeza de um duque nas palavras, e até mesmo na
escolha das ilustrações e da arte da capa.
https://www.amazon.com.br/dp/B0B85QBFK7
https://www.amazon.com.br/stores/Valter-Cardoso/author/B09Q67VJHP
http://www.aledossena.com.br/2022/12/eu-li-colorindo-giocondas-valter-cardoso.html
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